29/5/2009
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Há exatos 60 anos a
Fundação de Pesquisa Gravitacional, nos Estados Unidos, premia autores de artigos científicos considerados importantes sobre temas relacionados à gravidade e à gravitação. Mas em nenhuma edição do prêmio os brasileiros estiveram tão presentes quanto na deste ano, tendo levado um segundo lugar e sete menções honrosas.
O prêmio já foi concedido a cientistas como
Stephen Hawking, da
Universidade de Cambridge (Inglaterra),
Roger Penrose, da
Universidade de Oxford (Inglaterra), e
George Smoot, da
Universidade da Califórnia em Berkeley (Estados Unidos), que em 2006 ganharia também o
Nobel de Física.
Na edição de 2009,
Saulo Carneiro, da
Universidade Federal da Bahia e da
Universidade Queen Mary de Londres (Inglaterra), ficou com o segundo lugar do prêmio, com o artigo
On vacuum density, the initial singularity and dark energy.
Odylio Aguiar, do
lnstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), coordenador do
Projeto Temático “Nova física no espaço: ondas gravitacionais”, apoiado pela
FAPESP, recebeu menção honrosa pelo artigo
Broadband resonant mass gravitational wave detection, do qual é o primeiro autor.
O mesmo artigo rendeu menções honrosas também a
Guilherme Pimentel, da
Universidade de Princeton (Estados Unidos) e do
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
Joaquim Barroso, do
Inpe, e
Rubens Marinho Jr., do
ITA.
Orfeu Bertolami, do
Instituto Superior Técnico, de Portugal – país onde o brasileiro vive desde 1989 –, ganhou menção honrosa pelo artigo
The cosmological constant problem: a user's guide.
Ivano Damião Soares e
Rodrigo Maier, do
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), ganharam menção com o texto
An answer to the main black hole pathology: forming nonsingular black holes from dust collapse.
“É um prêmio muito tradicional e o feito do professor Saulo Carneiro é muito importante. O fato de termos tantos brasileiros recebendo menções honrosas é bastante significativo e demonstra algo que já percebíamos: a produção científica brasileira está crescendo muito na área de gravitação e gravidade”, disse à
Agência FAPESP.
Segundo Aguiar, o artigo submetido por seu grupo, que rendeu as quatro menções honrosas, surgiu a partir de uma idéia do australiano
Michael Tobar – o único autor não brasileiro do artigo – e foi desenvolvido na dissertação de mestrado de Pimentel.
“A idéia surgiu há cerca de três anos, mas estávamos esperando um bom aluno que pudesse explorá-la. Guilherme, um aluno brilhante que agora está fazendo o doutorado em Princeton, conseguiu torná-la realidade”, afirmou.
De acordo com o professor, o trabalho está relacionado ao detector de ondas gravitacionais brasileiro: o
Detector Mario Schenberg, localizado no
Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, o detector já entrou em operação, embora ainda não obtenha dados científicos.
“Esse trabalho busca fazer com que o detector seja competitivo em relação aos interferômetros laser, que têm banda mais larga. O detector, embora tenha banda mais reduzida, é mais barato e seria capaz de determinar a direção e a polarização da onda – isto é, a maneira como a onda deforma o espaço-tempo”, explicou.
Enquanto a banda dos interferômetros varia entre limites mínimos de 10 a 50 hertz e máximos de 1 a 2 quilohertz – dependendo do equipamento –, o detector possui uma banda mais estreita, que varia apenas 50 hertz.
“Nossa proposta tem o objetivo de modificar isso. Com uma troca do sensor, o detector brasileiro seria capacitado a ter uma banda que iria de 2 quilohertz a 10 quilohertz, tornando-se competitivo com os interferômetros sem perder a capacidade de determinar a direção e a polarização da onda”, disse.
O
Projeto Temático, segundo Aguiar, apoia o aperfeiçoamento do detector brasileiro. “Para isso tentamos atingir temperaturas menores e sensores melhores, para que possamos chegar à sensibilidade projetada”, disse.
As ondas gravitacionais têm amplitude um milhão de vezes menor que o diâmetro de um próton. “Como a onda chega à Terra com amplitude muito pequena, é um imenso problema tecnológico detectá-la e passar a captá-la com regularidade para fazer observações. Mas, se isso for feito, abriremos uma nova janela para o Universo, descrevendo fenômenos que não emitem ondas eletromagnéticas suficientemente significativas para serem observadas”, disse.
Por ser tão minúscula, a onda em si não pode ser medida. Por conta disso, experimentos como o feito na
USP tentam detectar alterações da energia interna de corpos massivos a baixíssimas temperaturas confinados em um sistema no laboratório.
“Medimos o efeito provocado pela emissão da onda. O que conseguimos é uma prova indireta de sua presença, demonstrando que a energia e o momentum angular do sistema estão sofrendo perdas”, disse.
Fonte: Site da Agência FAPESPComentário. Grande noticia para a Ciência Brasileira. Parabéns a todos pesquisadores e em especial ao meu conterrâneo Saulo Carneiro da Universidade Federal da Bahia.