sexta-feira, 29 de maio de 2009

Cientistas Brasileiros são Premiados nos EUA

Segue abaixo uma nota postada hoje no site da Agência FAPESP sobre os prêmios concedidos a brasileiros pela Fundação de Pesquisa Gravitacional, dos Estados Unidos por artigos científicos considerados importantes sobre temas relacionados à gravidade e à gravitação.

Duda Falcão

Gravitação Brasileira

29/5/2009

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Há exatos 60 anos a Fundação de Pesquisa Gravitacional, nos Estados Unidos, premia autores de artigos científicos considerados importantes sobre temas relacionados à gravidade e à gravitação. Mas em nenhuma edição do prêmio os brasileiros estiveram tão presentes quanto na deste ano, tendo levado um segundo lugar e sete menções honrosas.

O prêmio já foi concedido a cientistas como Stephen Hawking, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), Roger Penrose, da Universidade de Oxford (Inglaterra), e George Smoot, da Universidade da Califórnia em Berkeley (Estados Unidos), que em 2006 ganharia também o Nobel de Física.

Na edição de 2009, Saulo Carneiro, da Universidade Federal da Bahia e da Universidade Queen Mary de Londres (Inglaterra), ficou com o segundo lugar do prêmio, com o artigo On vacuum density, the initial singularity and dark energy.

Odylio Aguiar, do lnstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), coordenador do Projeto Temático “Nova física no espaço: ondas gravitacionais”, apoiado pela FAPESP, recebeu menção honrosa pelo artigo Broadband resonant mass gravitational wave detection, do qual é o primeiro autor.

O mesmo artigo rendeu menções honrosas também a Guilherme Pimentel, da Universidade de Princeton (Estados Unidos) e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Joaquim Barroso, do Inpe, e Rubens Marinho Jr., do ITA.

Orfeu Bertolami, do Instituto Superior Técnico, de Portugal – país onde o brasileiro vive desde 1989 –, ganhou menção honrosa pelo artigo The cosmological constant problem: a user's guide. Ivano Damião Soares e Rodrigo Maier, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), ganharam menção com o texto An answer to the main black hole pathology: forming nonsingular black holes from dust collapse.

“É um prêmio muito tradicional e o feito do professor Saulo Carneiro é muito importante. O fato de termos tantos brasileiros recebendo menções honrosas é bastante significativo e demonstra algo que já percebíamos: a produção científica brasileira está crescendo muito na área de gravitação e gravidade”, disse à Agência FAPESP.

Segundo Aguiar, o artigo submetido por seu grupo, que rendeu as quatro menções honrosas, surgiu a partir de uma idéia do australiano Michael Tobar – o único autor não brasileiro do artigo – e foi desenvolvido na dissertação de mestrado de Pimentel.

“A idéia surgiu há cerca de três anos, mas estávamos esperando um bom aluno que pudesse explorá-la. Guilherme, um aluno brilhante que agora está fazendo o doutorado em Princeton, conseguiu torná-la realidade”, afirmou.

De acordo com o professor, o trabalho está relacionado ao detector de ondas gravitacionais brasileiro: o Detector Mario Schenberg, localizado no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, o detector já entrou em operação, embora ainda não obtenha dados científicos.

“Esse trabalho busca fazer com que o detector seja competitivo em relação aos interferômetros laser, que têm banda mais larga. O detector, embora tenha banda mais reduzida, é mais barato e seria capaz de determinar a direção e a polarização da onda – isto é, a maneira como a onda deforma o espaço-tempo”, explicou.

Enquanto a banda dos interferômetros varia entre limites mínimos de 10 a 50 hertz e máximos de 1 a 2 quilohertz – dependendo do equipamento –, o detector possui uma banda mais estreita, que varia apenas 50 hertz.

“Nossa proposta tem o objetivo de modificar isso. Com uma troca do sensor, o detector brasileiro seria capacitado a ter uma banda que iria de 2 quilohertz a 10 quilohertz, tornando-se competitivo com os interferômetros sem perder a capacidade de determinar a direção e a polarização da onda”, disse.

O Projeto Temático, segundo Aguiar, apoia o aperfeiçoamento do detector brasileiro. “Para isso tentamos atingir temperaturas menores e sensores melhores, para que possamos chegar à sensibilidade projetada”, disse.

As ondas gravitacionais têm amplitude um milhão de vezes menor que o diâmetro de um próton. “Como a onda chega à Terra com amplitude muito pequena, é um imenso problema tecnológico detectá-la e passar a captá-la com regularidade para fazer observações. Mas, se isso for feito, abriremos uma nova janela para o Universo, descrevendo fenômenos que não emitem ondas eletromagnéticas suficientemente significativas para serem observadas”, disse.

Por ser tão minúscula, a onda em si não pode ser medida. Por conta disso, experimentos como o feito na USP tentam detectar alterações da energia interna de corpos massivos a baixíssimas temperaturas confinados em um sistema no laboratório.

“Medimos o efeito provocado pela emissão da onda. O que conseguimos é uma prova indireta de sua presença, demonstrando que a energia e o momentum angular do sistema estão sofrendo perdas”, disse.


Fonte: Site da Agência FAPESP

Comentário. Grande noticia para a Ciência Brasileira. Parabéns a todos pesquisadores e em especial ao meu conterrâneo Saulo Carneiro da Universidade Federal da Bahia.

Projeto Gráviton

Segue abaixo uma nota postada em setembro de 2006 no site do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) sobre o primeiro experimento de gravitação brasileiro - Projeto Gráviton.

Duda Falcão

INPE Participa do Primeiro Detector Nacional de Ondas Gravitacionais

25/09/2006

O primeiro experimento de gravitação brasileiro entrou em operação neste mês de setembro no Instituto de Física da USP, em São Paulo. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) participa do Projeto Gráviton junto com outras quatro instituições - USP, ITA, UNICAMP e CEFET-SP. O detector de ondas gravitacionais Mario Schenberg permitirá o estudo de fenômenos astrofísicos que não podem ser observados através de outras ondas ou partículas. E uma das chaves para a compreensão da origem do Universo pode estar na observação das fontes emissoras de radiação no espectro gravitacional. Vários países estão buscando a primeira detecção de ondas gravitacionais, e agora o Brasil faz parte desta empreitada.

Os pesquisadores brasileiros desenvolveram a tecnologia para a construção do telessensor esferoidal (antena esférica), que foi batizado de Mario Schenberg em homenagem a um dos pioneiros da Física Teórica e da Astrofísica moderna no Brasil, que no início da década de 40 trabalhou nos Estados Unidos ao lado de George Gamow e Subramanyan Chandrasekhar. O detector servirá ao estudo da emissão de ondas gravitacionais por fontes astrofísicas - buracos negros e estrelas de nêutrons.

“Entre os dias 8 e 13 de setembro, coletamos e gravamos os dados de três sensores deste experimento. Essa primeira ‘corrida’ de 120 horas é a primeira do detector, que, dessa forma, inaugurou a sua fase comissionária, na qual serão feitos ajustes e melhorias para passar a funcionar como um detector competitivo”, explica Odylio Aguiar, pesquisador do INPE que lidera o Projeto Gráviton junto com Nei de Oliveira Junior, da USP.Os sinais gravitacionais de objetos astrofísicos abrem uma nova janela no estudo da Física e da Cosmologia: a Astronomia Gravitacional. A construção do detector de ondas gravitacionais Mario Schenberg fomenta o conhecimento tecnológico nas áreas de criogenia, vácuo, transdutores a baixo ruído, supercondutividade e isolamento vibracional, entres outras, favorecendo a formação de novos especialistas nestes campos.Mais informações sobre o projeto Gráviton e o que são ondas gravitacionais no site www.das.inpe.br/~graviton.As fotos mostram a antena esférica de ondas gravitacionais e detalhes do seu cabeamento, que envia e recebe o sinal do sensor/transdutor através de pequenas antenas sintonizadas na frequência de microondas.






Fonte: Site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE

Comentário: Parabéns ao INPE e aos órgãos envolvidos com esse projeto de ponta. Esta acompanhado o que se faz em física de ponta no mundo é necessário e estratégico para o país e o Projeto Gráviton é um grande exemplo disso.

Acidente em Angra 2

MPF Vai Apurar Contaminação em Angra 2


Prefeito Questiona Forma de Divulgar o Caso; Comissão Descarta Risco



Felipe Werneck


O Ministério Público Federal em Angra dos Reis (RJ) instaurou ontem inquérito civil para apurar evento não usual ocorrido há 13 dias na Usina de Angra 2 que resultou na contaminação - oficialmente afastada - de quatro funcionários com material radioativo. Os procuradores pediram esclarecimentos à Eletronuclear, à Comissão Nacional de Energia nuclear (Cnen), ao Ibama e à Defesa Civil.

Segundo a Cnen, a contaminação já foi removida e o problema não trouxe consequência aos funcionários, à população e ao meio ambiente. O prefeito de Angra, Tuca Jordão (PMDB), afirmou que a Cnen omitiu a informação de que quatro pessoas haviam sido contaminadas no primeiro comunicado sobre o fato, feito por telefone, às 17h35 do dia 15, 1 hora e 20 minutos após o problema ter sido constatado. Segundo ele, foi informado apenas que havia ocorrido um "alarme de taxa de atividade alta na chaminé de descarga de gases".

Jordão disse que pedirá na reunião do Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro mudança na forma de divulgação feita pela Cnen. Segundo ele, os relatórios são vagos. "O que eu quero é transparência total em relação a qualquer evento. Por que não informaram no mesmo dia que houve contaminação de funcionários? Isso mostra que há uma falha no sistema", disse Jordão, que é favorável à construção de Angra 3.

O diretor de Radioproteção e Segurança Nuclear e presidente interino da Cnen, Laércio Vinhas, afirmou que o procedimento foi correto, mas disse não ter objeção a uma eventual mudança na regra de divulgação dos eventos não usuais. Na escala internacional de eventos nucleares da Agência Internacional de Energia Atômica (que vai de 0 a 7), esses eventos são classificados como de nível 1 (anomalia ou desvio operacional). "O evento não usual foi deflagrado por causa do alarme e não da contaminação. Nosso objetivo é transmitir com objetividade o que acontece e evitar uma falsa interpretação."

Sobre a divulgação com atraso, a responsabilidade é da Eletronuclear, que informou não ser "o procedimento divulgar todos os eventos não usuais" para evitar alarme desnecessário. Disse que, nos últimos anos, foram em média dois casos semelhantes de contaminação de funcionários por mês e que o procedimento usual para descontaminação é a limpeza do corpo com água e sabão.


Fonte: Jornal “O Estado de São Paulo” de 28/05/2009

Acidente em Angra 2

Eletronuclear Não Apresenta os Quatro Funcionários Contaminados


Prefeito de Angra dos Reis Solicita Mudanças no Plano de Emergência das Usinas Nucleares


Taís Mendes e Maria Elisa Alves escrevem para “O Globo”


O acidente com material radioativo na Usina de Angra 2, ocorrido no dia 15 e divulgado somente anteontem, continua cercado de mistérios. Os quatro funcionários contaminados sequer foram apresentados. Em seu site, a Eletronuclear chegou a informar, anteontem, que seis trabalhadores foram monitorados. Nenhum nome foi divulgado pela empresa.

A Prefeitura de Angra informou que foi avisada do acidente uma hora e 20 minutos após o início do problema, mas através de um simples formulário, no item de evento não usual (ENU), e não foi comunicada sobre a contaminação de funcionários.

— A Defesa Civil recebe em média 10 ENUs por ano. São relatos de eventos corriqueiros, como uma queda de energia. Estamos pedindo que eles passem a ser mais detalhados, sem muito linguajar técnico. Como agentes públicos, temos que saber o que está acontecendo nas usinas —reclamou o prefeito de Angra, Tuca Jordão.

Ele pretende pedir, na terça-feira, que o Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro faça mudanças no Plano de Emergência das Usinas Nucleares de Angra dos Reis (Sipron) — que envolve órgãos federais, estaduais e municipais. Já o Ministério Público Federal abriu uma investigação e intimou o Ibama, responsável pelo licenciamento da usina, a prestar esclarecimentos em 72 horas.

O subsecretário de Defesa Civil de Angra, José Carlos Lucas Costa, disse que o acidente alertou para uma falha no planejamento para casos de emergência.

Já o professor Achilino Senra, vice-diretor da Coppe e professor de energia nuclear, considerou correto o procedimento adotado pela Eletronuclear e pela Cnen. Segundo ele, o acidente está no nível mais baixo de risco da escala, sem ter oferecido perigo para o meio ambiente e para os moradores: — Se fosse um acidente grave, é claro que a comunicação teria que ser mais rápida.(O Globo, 28/5)


Fonte: Jornal “O GLOBO” de 28/05/2009

Nota da Eletronuclear Sobre Acidente em Angra 2





A Comissão Nacional de Energia Nuclear – Cnen, esclarece que no último dia 15 de maio foi identificado por nossos inspetores residentes, que acompanham diariamente a operação da Usina de Angra 2, o uso inadequado de um procedimento de manutenção de um equipamento no edifício auxiliar (UKA) de Angra 2.

O referido incidente não trouxe conseqüência à população e meio ambiente da região. A Cnen esclarece que comunicou o evento a Prefeitura e a Defesa Civil de Angra dos Reis como acordado com estes órgãos.

Quatro trabalhadores foram contaminados em níveis abaixo de 0,1% dos limites estabelecidos em norma para os trabalhadores. A equipe de proteção radiológica iniciou os trabalhos de descontaminação (como por exemplo: lavagem do corpo, das mãos e uniforme). Em seguida, os trabalhadores passaram pelos portais da área controlada da usina e nenhum alarme foi acionado, ou seja, confirmando-se que a contaminação havia sido removida.

Complementarmente, os especialistas da área de Proteção Radiológica, encaminharam estes trabalhadores para o Centro das Radiações Ionizantes de Mambucaba para exames adicionais. Estes exames confirmaram não haver nenhuma contaminação, garantindo, desta forma, a segurança dos trabalhadores ocupacionalmente expostos. Cabe lembrar que os níveis de radiação a que os trabalhadores foram submetidos estão em cerca de 0,1% do que estipula a norma 3.01 da Cnen.

A liberação ao meio ambiente foi de cerca de 0,2% dos limites estabelecidos pela Cnen. Portanto, não significativa. Logo, o sistema de filtragem de ar que tem como função bloquear a saída de radionuclídeos através da chaminé funcionou adequadamente.

Convém destacar que este evento não usual (ENU) ocorreu dentro do edifício auxiliar de Angra 2, e não no prédio do reator.

Este evento é classificado na escala internacional de eventos nucleares (Ines) da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) como nível 1 (anomalia ou desvio operacional) numa escala que vai de zero até o nível 7.”


Fonte: JC e-mail 3770, de 27 de Maio de 2009

Acidente em Angra 2

Acidente Radioativo na Usina de Angra 2
Contaminou Quatro Funcionários


Problema ocorreu no dia 15, mas só foi divulgado ontem pela Eletronuclear


Carla Rocha e Tulio Brandão escrevem para “O Globo”


Um acidente com material radioativo na Usina de Angra 2, que aconteceu há 11 dias, só foi informado oficialmente nesta terça-feira pela Eletronuclear — empresa que fornece eletricidade gerada a partir de energia nuclear. No dia 15, durante a manutenção de um equipamento — não especificado — quatro funcionários foram contaminados. Eles tiveram que passar por um processo de descontaminação. A causa do acidente teria sido falha humana, levando inclusive ao afastamento de um dos empregados.

A Eletronuclear, de início, falava na contaminação de três pessoas. À tarde, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) divulgou que, na verdade, quatro funcionários haviam sido contaminados em níveis abaixo de 0,1% dos limites estabelecidos pela norma 3.01 da Cnen.

A própria equipe de proteção radiológica da Eletronuclear iniciou a descontaminação, com lavagem do corpo e de uniformes. Em seguida, os funcionários passaram pelos portais da área controlada da usina e nenhum alarme foi acionado, o que confirmaria que a contaminação havia sido removida.

Cnen Diz que Não Houve Danos à Saúde de Funcionários

Apesar disso, eles foram levados para o Centro das Radiações Ionizantes de Mambucaba para exames adicionais, que garantiram não ter havido danos maiores à saúde dos trabalhadores.

De acordo com a Cnen, a liberação no meio ambiente foi de cerca de 0,2% dos limites estabelecidos, graças ao sistema de filtragem de ar que tem como função bloquear a saída de radionuclídeos pela chaminé.

O acidente, classificado de evento não-usual, aconteceu no edifício auxiliar de Angra 2 e não no prédio do reator. Numa escala de zero a 7 da Agência Internacional de Energia Atômica, foi considerado de nível 1 (anomalia ou desvio operacional).

O subsecretário de Defesa Civil de Angra, José Carlos Lucas Costa, afirmou ter sido informado apenas de que não havia risco para a população e para o meio ambiente.

-- Tomei conhecimento pela imprensa. Apenas soube que um funcionário da Eletronuclear estava fazendo manutenção na chaminé da usina e, ao esmerilhar alguma coisa, a limalha de ferro voou e bateu no detector de radiação, disparando o alarme. Mas que não tinha sido nada grave.

O diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, disse que, aparentemente, o acidente não teve consequência grave, mas criticou o fato de a Eletronuclear ter levado tanto tempo para divulgá-lo.

-- Por que só fomos informados onze dias depois? Que equipamento? Que nível de radiação? Acho que a nota divulgada foi muito sumária.

Nadia Valverde, coordenadora da ONG Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (Sapê), teve acesso às informações apenas depois de contatar a Defesa Civil de Angra, segunda-feira.

-- A principal questão nessa história é a falta de transparência da Eletronuclear. Dez dias depois do evento, a população de Angra só ficou sabendo por causa das ONGs e da imprensa.

O diretor de campanhas do Greenpeace, Sérgio Leitão, disse que “o acidente em Angra 2 serve para ilustrar a incoerência de se ter no Brasil um mesmo órgão (a Cnen) responsável pela promoção e fiscalização da energia nuclear no país”. E lamentou a demora na divulgação: “É a prova clara de que o setor nuclear no Brasil é cercado de mistério, graças à sua herança militar.”(O Globo, 27/5)


Fonte: Jornal “O GLOBO” de 27/05/2009

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Programa do Submarino Nuclear Brasileiro

Segue abaixo uma matéria publicada no site do Jornal da Ciência da SBPC em 25/05/2009 sobre o programa do Submarino Nuclear da Marinha.

Duda Falcão


Construção de Submarinos Consumirá R$ 17,6 Bilhões


25/05/2009



Plano do Acordo Brasil-França Prevê Construção do Casco do 1.º Nuclear


O comandante da Marinha, almirante Júlio Soares de Mora Neto, informou na sexta-feira, dia 22, que o pacote de construção de quatro novos submarinos convencionais (o que inclui um novo estaleiro e uma nova base) e do casco do primeiro submarino nuclear brasileiro vai consumir R$ 17,6 bilhões.

Este é o valor do financiamento, previsto no acordo assinado entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy, que o Brasil negocia na França. O pacote integra o acordo de cooperação militar firmado entre os dois países no ano passado - os submarinos convencionais serão adaptados do modelo francês Scorpène.

Como o Estado informou no domingo, dia 17, a Força já encontrou na Baía de Sepetiba, no litoral Sul do Rio, o terreno para o novo complexo naval, mas o início da obra depende da liberação do financiamento. Os trabalhos ficarão a cargo de um consórcio formado pela estatal francesa DCNS e a brasileira Odebrecht.

O comandante da Marinha espera que o acordo com o consórcio de bancos estrangeiros liderado pelo francês BNP Paribas, uma das maiores instituições financeiras da Europa, esteja concluído até o dia 7 de setembro, quando Sarkozy voltará ao Brasil para as comemorações da Independência no Ano da França no Brasil.

É o que falta para a validação do convênio e a largada para a construção do submarino nuclear, que poderá sair do estaleiro em 12 anos.

"O acordo estratégico só entra em vigor quando houver dinheiro", disse o comandante, depois de dar uma palestra num evento da Confederação Nacional de Jovens Empresários na Associação Comercial do Rio.

Apesar de o convênio ter sido assinado em dezembro, ele atribui a demora aos trâmites normais. Ainda estão em discussão detalhes do financiamento, como a forma de pagamento. O Brasil pode ter uma carência de cinco anos para começar a pagar o empréstimo num prazo de 15 anos. "É mais ou menos isso, mas ainda é um dos pontos que estamos discutindo", afirmou.

O comandante da Marinha também estimou o volume de recursos necessários para concluir os testes do reator nuclear e a finalização da planta industrial que vai completar o ciclo de enriquecimento e conversão do urânio e obtenção do combustível nuclear, tecnologias que a Força já domina.

Segundo Moura Neto, é preciso investir mais R$ 1,04 bilhão nessa vertente do projeto, cerca de R$ 130 milhões por ano, até 2014. Desde 1979, entre atrasos e cortes de verba, o programa nuclear brasileiro já consumiu US$ 1,2 bilhão.

Estratégia

Os R$ 17,6 bilhões da construção dos submarinos são apenas parte da conta de R$ 23,4 bilhões que Moura Neto deixará na mesa do ministro da Defesa, Nelson Jobim, até o próximo dia 29. É quando termina o prazo para que os três comandantes militares entreguem o inventário de projetos para reequipar as Forças Armadas, seguindo as diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa, traçada em 2008.

No caso da Marinha, a cifra citada por Moura Neto estima apenas os investimentos da primeira etapa, entre 2009 e 2014. O plano de reaparelhamento da Marinha listará metas até 2031, como a nacionalização da construção de navios de guerra e o desenvolvimento de um míssil nacional.(Alexandre Rodrigues)

Programa Nuclear Prevê Três Submarinos

O programa do submarino nuclear prevê uma frota mínima de três navios a longo prazo – a meta de referência é o ano 2035, segundo oficiais da Marinha ouvidos ontem pelo Estado. A previsão é de que a primeira unidade entre em operação por volta de 2020. O empreendimento recebe R$ 130 milhões ao ano.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, acha o projeto “essencial à garantia da riqueza nacional que se encontra no Atlântico”. Para ele, “não é possível pensar em proteção exclusivamente com navios de superfície, plataformas de fácil localização”. Jobim lembra que, antes da embarcação de propulsão nuclear, “serão construídos quatro submarinos convencionais, de diesel-elétricos”.

A frota nuclear será formada por navios de 96 metros, 4 mil toneladas de deslocamento submerso e 17,8 metros de altura máxima – o equivalente a um prédio de sete andares, no ponto onde fica a vela, a torre que abriga antenas e os sistemas óticos; o periscópio, por exemplo.

Para os engenheiros navais brasileiros, trata-se de aprender todo um novo conceito, a começar do desenho. O quadro de bordo do submarino nuclear será formado por 100 tripulantes, acomodados em um tubo de aço de 9,80 metros de diâmetro. Dentro dele dividirão o limitado espaço com equipamentos e os sistemas – rede elétrica, condutos hidráulicos, computadores, torpedos, mísseis e, claro, um reator nuclear ativo.

O tempo de permanência sob a água é indefinido, calculado em ciclos de 30 dias. Para reduzir o estresse de corrente do confinamento, os especialistas procuram dar ao arranjo interno do navio referências da dimensão humana. Não significa muito.

Na embarcação especificada pela Marinha, o efeito será percebido nos beliches, levemente mais amplos que o modelo adotado nos submarinos convencionais, menores e mais leves, ou no refeitório, também usado como cinema. Outro cuidado: cardápio variado, comida saborosa e de qualidade, servida dia e noite.

O submarino atômico implica segredos. Um deles, ligado ao projeto, é o da tecnologia do eixo que leva movimento às hélices. O problema é limitar ruído e vibração. Empregando um conceito derivado da construção de ultracentrífugas nacionais, empregadas no enriquecimento do urânio usado como combustível de reatores, o eixo de 80 metros será magnético, funcionando sem barulho nem atrito.(Roberto Godoy) (O Estado de SP, 23/5)


Fonte: JC e-mail 3768, de 25 de Maio de 2009

Comentário: Hummm, teremos de aguardar pra vê. Não sei não, isso esta me parecendo um programa megalomaníaco. Vamos aguardar.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Desenvolvimento de Novos Conceitos em Reatores Nucleares


Segue abaixo uma matéria publicada no site do JB Online em 10/02/2009 sobre o desenvolvimento no Brasil de novos conceitos de Reatores Nucleares.

Duda Falcão


Instituto Estuda Novos Conceitos de Reatores Nucleares


JB Online
12:59 - 10/02/2009



BRASÍLIA - O Brasil tem uma das maiores reservas mundiais de urânio e detém a cobiçada tecnologia para seu enriquecimento. Mas para viabilizar um futuro promissor de energia abundante e limpa é necessário um esforço continuado de pesquisa e desenvolvimento, capaz de superar desafios econômicos e de aceitação pública da energia nuclear. Ao mesmo tempo será preciso investir fortemente na formação de recursos humanos.

O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Reatores Nucleares Inovadores surge em resposta a estas questões, agregando os esforços de nossos cientistas, para oferecer à sociedade pesquisa de alta qualidade sobre novos conceitos de reatores nucleares.

- O futuro da engenharia nuclear do País nunca dependeu tanto disso - afirma o professor Aquilino Senra Martinez, que lidera uma equipe de 48 profissionais, todos brasileiros, pertencentes às instituições que desenvolvem atividades de pesquisa em reatores nucleares de potência. A sede do Instituto funciona na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ao longo dos próximos três anos, pesquisadores e estudantes de pós-graduação e técnicos de apoio, totalizando mais de 100 profissionais, trabalharão na busca de geração de energia, com enfoque na energia elétrica.

Martinez lembra que o Brasil precisa de energia para seu desenvolvimento, mas que para o aumento da produção, se mantida a atual estrutura da matriz energética nacional, gerará forte impacto nas questões de recursos hídricos, do uso da terra e da preservação do meio ambiente.

Em nível mundial, outra questão que preocupa o pesquisador diz respeito ao aumento das emissões de gases de efeito estufa resultantes da queima de combustíveis fósseis e suas consequências climáticas.

- A produção de energia elétrica por meio de usinas nucleares não contribui para o aquecimento global - observa Martinez.

Para isso, acrescenta, esforços consideráveis vêm sendo feitos para viabilizar a chamada "economia do hidrogênio", que busca substituir a queima de combustíveis fósseis pela utilização de hidrogênio em células de combustível, inclusive para uso em veículos automotores.

- Como o hidrogênio não é uma fonte primária de energia, uma das opções consideradas promissoras para produzi-lo envolve a associação de usinas nucleares com fábricas para produção de hidrogênio - explica.

Martinez acredita que com um esforço coordenado de 10 anos contínuos teremos uma área de C&T em Reatores Nucleares bem consolidada. "Há no País uma capacidade instalada nas universidades e nos institutos de pesquisa na área de tecnologia nuclear que é reconhecida internacionalmente.

Apenas para exemplificar, o Brasil é um dos nove países do mundo que dominam integralmente o ciclo do combustível nuclear, nele incluído o enriquecimento do urânio. Esse domínio é resultado da competência dos cientistas que atuam em pesquisa e desenvolvimento do setor nuclear", diz.

No entendimento do coordenador, a maior importância do Instituto refere-se ao aspecto estratégico do desenvolvimento autônomo da tecnologia nuclear do País. Para ele, no setor da energia nuclear a tecnologia não é transferida pelos países que a detêm, sendo necessário a ampliação em escala nacional do conhecimento e domínio da tecnologia de reatores avançados.

- Ou seja, devemos estar preparados para superar gargalos tecnológicos que possam dificultar o incremento do setor nuclear civil - diz Martinez.

Ele também ressalta que as atividades do Instituto serão sentidas no médio prazo, quando a tecnologia começar a ser transferida para o setor produtivo. Segundo Martinez, trabalham no desenvolvimento de tecnologias inovadoras de reatores nucleares pesquisadores das universidades Federais do Rio de Janeiro (UFRJ), de Minas Gerais (UFMG), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Além destas instituições, participam dos estudos o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), em Belo Horizonte (MG), o Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste, em Recife (PE), o Instituto de Energia Nuclear (IEN), no Rio de Janeiro, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, e o Instituto Militar de Engenharia (IME), também no Rio.

Os pesquisadores trabalharão nas instituições de origem. Os líderes das linhas de pesquisa e representantes das instituições se reunirão periodicamente e, pelo menos uma vez por ano, haverá encontro de todos para apresentação dos resultados parciais das pesquisas realizadas.

Nos três anos iniciais do projeto serão investidos R$ 2,4 milhões, mas outros recursos serão alocados em função da contrapartida das instituições participantes e de financiamentos das empresas do setor nuclear.

No geral, os pesquisadores buscam um conjunto de tecnologias inovadoras em quatro reatores nucleares: ADS - Accelerator Driven System - Reator Guiado por Aceleradores de Partículas; PWR - Pressurized Water Reactor - Reator a Água Pressurizada; Iris - International Reactor Innovative and Secure - Reator Internacional Inovador e Seguro; e o VHTR - Very High Temperature Reactor - Reator de Temperatura Muito Alta.

As informações são do Ministério da Ciência e Tecnologia.


Fonte: Site do JB Online

Comentário: Esse é mais um exemplo do investimento que o governo do presidente Lula vem fazendo na área de ciência e tecnologia no país. Certamente no futuro esse investimento gerará grandes benefícios a nossa sociedade e ao conhecimento humano.

Programa do Submarino Nuclear Brasileiro


Segue abaixo uma coletânea de vídeos que abordam o projeto do Submarino Nuclear Brasileiro em diversas épocas para que o leitor possa fazer uma cronologia dos acontecimentos e do desenvolvimento até os dias de hoje desse programa da Marinha do Brasil.

Duda Falcão


Submarino Nuclear Brasileiro - Programa Goulart de Andrade - 1994


Submarino Nuclear do Brasil - Programa Jornal da Globo - 20-10-2004


Submarino de Propulsão Nuclear Brasileiro - Programa Bom Dia Brasil - 29-09-2008


Fonte: Site do Youtube

Comentário: Como o leitor mesmo pôde notar, de 1994 a 2008 o desenvolvimento do submarino ficou quase que estacionado não havendo grandes avanços. No entanto, a partir de 2008 já no segundo governo do presidente Lula o programa vem ganhando apoio (inclusive com um acordo assinado com os franceses para a transferência de tecnologia do casco do submarino) e se espera que seja finalmente concluído em 12 anos.

Novo Laboratório de Luz Síncrotron


Brasil vai Ganhar seu Segundo Acelerador
de Partículas de Grandes Proporções



13/01/2009 - 09h00

Por Lilian Ferreira
do UOL Tecnologia
Em São Paulo

Um dos acontecimentos mais esperados pelos cientistas para este ano é o funcionamento do LHC (sigla em inglês para Grande Colisor de Hádrons), um acelerador de partículas gigante que será usado para simular as condições do Big Bang. Pouca gente sabe, mas o Brasil também possui um acelerador de partículas de grandes proporções (embora bem menor que o LHC), e já deu início ao desenvolvimento de uma segunda máquina.

O LHC, localizado no CERN (Centro Europeu de Pesquisa Nuclear), será usado para estimular o choque entre pequenas partículas atômicas: os prótons (veja como funciona o LHC). O objetivo é analisar detritos resultantes da colisão de feixes de hádrons (partículas compostas) para entender a natureza mais íntima da matéria. Os primeiros testes, iniciados em setembro do ano passado, tiveram que ser interrompidos e a máquina gigante só deve ser reativada no segundo semestre deste ano.

Já o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), o acelerador de partículas brasileiro, possui objetivos e funcionamento diferentes. No laboratório, inaugurado há 11 anos em Campinas (SP), elétrons (outra partícula elementar dos átomos) são acelerados e percorrem uma trajetória circular. O objetivo é obter a luz proveniente da aceleração destas partículas, conhecida como luz síncrotron, que possui um amplo espectro (desde o infravermelho até os raios-X).

Ao contrário do LHC, que acelera prótons, o LNLS acelera elétrons. Justamente por serem mais leves que os prótons, os elétrons, ao terem sua trajetória curvada, geram luz síncrotron muito intensa e, portanto, perdem energia. Os prótons também emitem luz síncrotron nessa situação, mas em quantidade menor que os elétrons, o que facilita a geração da alta quantidade de energia necessária para operar os anéis colisores como o LHC. Ou seja: se a luz síncrotron é a razão da existência do LNLS, ela representa uma inconveniência para anéis como o do LHC.



O QUE É LUZ SÍNCROTRON?

A luz síncrotron é uma radiação eletromagnética (luz) intensa que contém quatro faixas do espectro eletromagnético: a luz vísivel e os raios-x, ultravioletas e infravermelhos. Ela é emitida por elétrons de alta energia que circulam em um acelerador de partículas.

O nome dessa luz é uma referência ao equipamento que a produz, a saber, a fonte de luz síncrotron. Ela é usada pelos cientistas para "enxergar" as características dos materiais nos níveis moleculares e atômicos.



Com a luz produzida pelo acelerador de partículas brasileiro, pesquisadores de diversas áreas podem "enxergar" as características dos materiais com seus átomos e moléculas. "Ao iluminar amostras, é possível ver como a luz reage em diferentes materiais. Em amostras orgânicas, como proteínas, dá para ver a geometria dos átomos e onde eles se localizam pela maneira como a luz é difratada. Assim, é possível, por exemplo, definir informações sobre como a proteína funciona e qual seu papel metabólico", explica Pedro Tavares, diretor da Divisão de Aceleradores e Instrumentação do LNLS.

Agora, o laboratório pretende construir uma segunda fonte de luz síncrotron, o LNLS-2. O Ministério da Ciência e Tecnologia liberou R$ 2 milhões, no fim do ano passado, para o início das pesquisas para a nova fonte, que deve ficar pronta em 10 anos. Ela será maior (cerca de 350 metros de extensão) e capaz de produzir luz dezenas de milhões de vezes mais brilhante que a fonte do LNLS-1.

O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron

O LNLS foi o primeiro laboratório do tipo instalado no hemisfério sul e é, ainda hoje, o único da América Latina. Sua fonte de luz síncrotron foi totalmente desenvolvida por pesquisadores brasileiros entre 1987 e 1997, quando começou a operar. Os investimentos na construção foram de U$ 70 milhões, dos quais 85% gastos em equipamentos projetados e executados no próprio laboratório.

Aberto a usuários de todo o Brasil e do mundo, o LNLS funciona 24 horas por dia, de segunda a sábado. Propostas de utilização das suas instalações podem ser submetidas duas vezes ao ano. Anualmente, cerca de 1600 pesquisadores passam pelo laboratório, sendo 15% estrangeiros.


Fonte: Site UOL

Comentário: Grande notícia para ciência e tecnologia brasileira. Certamente se esse novo Laboratório sair será de grande valia para a comunidade cientifica e consequentemente para sociedade brasileira. Realmente não posso deixar de notar o esforço do governo de Lula em investir em ciência e tecnologia nesse país. Pena que no caso da tecnologia espacial ainda deixa muito a desejar.

O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron - LNLS


O Acelaredor de Particulas do Laboratório


A idéia de construir um Laboratório Nacional de Luz Síncrotron começou a ser discutida no Brasil em 1981. A decisão de sua construção foi tomada em 1986 e os trabalhos tiveram início em 1987. As principais motivações que levaram a essa decisão foram:

a) o desenvolvimento de um projeto de engenharia desafiador, de porte, capaz de atrair uma massa crítica de jovens pesquisadores e engenheiros para serem treinados em tecnologias-chave, acelerando o desenvolvimento desses campos no país;

b) a construção de uma instalação experimental que pudesse oferecer condições de excelência para uma grande variedade de pesquisadores, incluindo físicos, químicos, biólogos, cristalógrafos, bem como usuários dos setores de saúde e industrial;

c) a introdução do conceito de laboratório nacional, oferecendo instalações de acesso aberto para serem utilizadas por pesquisadores de outras instituições, com um pequeno número de pesquisadores na casa produzindo resultados científicos de alta qualidade, mantendo assim as instalações atualizadas.

Essas motivações tiveram por base a percepção da necessidade urgente de desenvolver tecnologicamente o país. Portanto, o foco era ter um projeto de forte componente tecnológico que pudesse atrair alguns dos jovens mais promissores e a percepção da evolução científica, exigindo cada vez mais equipamentos de grande porte para sua realização, além de um novo formato na organização dos laboratórios científicos.

A concentração de recursos num laboratório nacional, aberto e multiusuário, permite o desenvolvimento de um centro de pesquisa competitivo internacionalmente nas técnicas experimentais mais modernas, ao mesmo tempo em que, quando realizada sua vocação de laboratório nacional na sua plenitude, descentraliza a ciência e tecnologia do país. Dessa forma, pesquisadores de todas as instituições podem ter acesso a instalações experimentais de grande porte e sofisticadas para o desenvolvimento de seus projetos científicos e tecnológicos.

A primeira fase do desenvolvimento do LNLS começou em 1987, quando teve início a construção da fonte de luz síncrotron, e foi concluída em 1997, com sua inauguração e início dos trabalhos científicos pelos usuários nas primeiras linhas de luz construídas. Essa fase, caracterizada pela bem sucedida construção da fonte de luz síncrotron, permite que o Brasil, hoje, domine vários aspectos da tecnologia de aceleradores de partículas, incluindo a obtenção de ultra-alto vácuo, mecânica de precisão, geodesia industrial, controle e automação, entre outras tecnologias.

A segunda fase do LNLS pode ser identificada como a etapa de sua consolidação como um laboratório de pesquisa científica e tecnológica, de caráter nacional, aberto, multiusuário e multidisciplinar. Essa fase se identifica com o período que começa com a inauguração do laboratório e se prolonga, simbolicamente, até 2004, quando o LNLS atinge a marca de 1000 usuários por ano. Na verdade, começa no período de sua construção e é um processo permanente. A formação e o treinamento dos usuários em novas técnicas experimentais de aplicação de luz síncrotron e o desenvolvimento da cultura de laboratório nacional - portanto, aberto e multiusuário - começa com a construção do laboratório e com as reuniões de usuários sendo realizadas desde 1990.

O LNLS possui, hoje, uma comunidade de usuários significativa e crescente, participativa na vida do laboratório e em seu desenvolvimento. Além disso, é reconhecido como um laboratório nacional pela comunidade científica e tecnológica, realizando pesquisa de alto nível em suas áreas de atuação. O desenvolvimento da cultura e da prática de laboratório nacional, aberto e multiusuário, é um trabalho permanente e cotidiano.

Começa agora sua terceira fase, quando o conceito de laboratório nacional se expande para um complexo laboratorial - capaz de desenvolver pesquisas estratégicas, multi e interdisciplinares. Para isso, é necessário aprimorar as aplicações experimentais e direcionar as principais atividades científicas. Deve-se buscar a especialização nas diversas instalações experimentais, através do desenvolvimento da instrumentação científica e instalação de novos dispositivos experimentais, focando os experimentos na realização de programas científicos diferenciados e que utilizem as especificidades da capacidade instrumental instalada. Finalmente, deve-se buscar o desenvolvimento de projetos científicos ambiciosos, que exijam a capacidade experimental disponível na maior amplitude possível. Em especial, o LNLS deve avaliar a possibilidade e oportunidade de projetar e construir novas fontes de luz síncrotron capazes de ampliar o leque de alternativas experimentais de ponta no LNLS.

O desenvolvimento de áreas estratégicas, associadas às aplicações da luz síncrotron, começou em 1999, com a implantação da microscopia eletrônica e do centro de biologia molecular estrutural. Essas instalações, sempre dentro do conceito de laboratório nacional, multiusuário, ampliam as possibilidades científicas do laboratório e, por conseqüência, da comunidade científica, desenvolvendo, através da sinergia dos laboratórios científicos com as estações experimentais nas linhas de luz, centros capazes de realizar pesquisas de porte, diferenciadas, em áreas estratégicas para o país, oferecendo uma capacidade única para a comunidade científica e tecnológica.

O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) é um centro nacional de Ciência e Tecnologia. Aqui biólogos, químicos, físicos e engenheiros de materiais encontram a adequada infra-estrutura de equipamentos para realizar pesquisas em materiais.

O Governo Federal, por intermédio do Ministério da Ciência e Tecnologia, investe anualmente 12 milhões de reais no LNLS, de acordo com Contrato de Gestão assinado com a Organização Social que gerencia o Laboratório: a Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ATBLuS).

Em resumo, o LNLS tem as seguintes características:

* Dispõe de equipamentos científicos de grande porte, utilizados de forma partilhada por cientistas;

* É aberto a pesquisadores de instituições externas, pois é um laboratório nacional;

- Dispõe de um quadro próprio de cientistas e tecnólogos, cujas funções são:
- Desenvolver instrumentação científica;
- Realizar projetos de pesquisa;

* Auxiliar usuários externos na preparação e realização de experimentos.
Organiza cursos, workshops, treinamentos em técnicas, métodos e processos de pesquisa com luz síncrotron, microscopia eletrônica, microfabricação de dispositivos, microlitrografia aplicada à microeletrônica e inúmeros temas correlatos;

* Desenvolve programas regulares de capacitação de recursos humanos, voltados para estudantes de nível médio, nível superior, doutorandos e pós-doutorandos.


Fonte: Laboratório Nacional de Luz Síncrotron - LNLS

terça-feira, 19 de maio de 2009

Laboratório LABGENE da Marinha


Segue abaixo uma notícia publicada no site Economia & Energia no final de 2005 informando a conclusão da fabricação e montagem dos internos do Vaso de Pressão do reator do laboratório da Marinha, LABGENE - Laboratório de Geração de Energia Núcleo-Elétrica que é uma das vertentes do programa nuclear da esquadra. O projeto já se encontra em um outro estagio de desenvolvimento, mas no momento não tenho maiores informações sobre o assunto.

Duda Falcão


Conclusão da Fabricação e Montagem dos Internos e
do Vaso de Pressão do Reator do LABGENE





Leonam dos Santos Guimarães (*)
leonam@eletronuclear.gov.br


O Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) concluiu com sucesso em 2005 a montagem final do conjunto Vaso de Pressão e Internos do Reator do Laboratório de Geração de Energia Núcleo-Elétrica (LABGENE). Este conjunto, juntamente com os elementos combustíveis e os mecanismos de acionamento de barras de controle, compõem um Reator Nuclear tipo PWR completo.


O Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica - LABGENE


A Marinha do Brasil está implantando no Centro Experimental ARAMAR, localizado a cerca de 120 km de São Paulo, um protótipo de instalação de geração de eletricidade de origem nuclear baseada em reator a água pressurizada (PWR) de pequena potência.

Esta instalação tem como objetivo obter a capacitação tecnológica nacional que permita desenvolver no País, nas próximas décadas, centrais nucleares de pequena e média potência, que atendam às necessidades da matriz energética brasileira, e instalações de propulsão nuclear naval que atendam às necessidades estratégicas de defesa nacional.

O Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica (LABGENE) é projetado para validar novos conceitos e dispositivos para melhoria do desempenho e segurança da geração núcleo-elétrica e constituirá uma poderosa ferramenta para atividades de P&D em combustíveis e sistemas em apoio ao desenvolvimento de aplicações comerciais e navais.

Um extensivo programa experimental foi executado para validar os parâmetros do projeto neutrônico do núcleo do reator. Este programa está sendo implementado numa unidade crítica especialmente construída para este fim, que iniciou sua operação em 1988. Este pequeno reator de pesquisas, denominado IPEN/MB-01, foi totalmente projetado e construído por brasileiros, sendo um grande feito da engenharia nacional à época.


Prédios do Reator e das Turbinas


Vaso do Reator com Isolamento Térmico

Os componentes principais do circuito primário, i.e. vaso do reator (veja imagem acima) e suas estruturas internas, pressurizador, bombas de resfriamento, geradores de vapor e auxiliares associados estão concluídos. O vaso do reator e seus internos foram recentemente montados para verificação de ajustes e tolerâncias com pleno êxito.

As bombas de resfriamento principal estão para ser submetidas a testes de desempenho num dispositivo experimental especialmente projetado para este fim. Tal dispositivo está ligado ao Circuito Termohidráulico Experimental de 150 atmosferas (CTE-150), originalmente projetado e previamente utilizado para validação dos parâmetros de projeto adotados para os circuitos primário e secundário da instalação. Os parâmetros de projeto e medidas de desempenho operacional dos mecanismos de acionamento de barras de controle foram também validados em outra bancada experimental especialmente construída para este fim. Outras bancadas experimentais foram usadas para validar os parâmetros hidrodinâmicos do reator e o projeto dos secadores de vapor. Mock-ups em escala natural do reator e dos equipamentos para troca de combustível foram também desenvolvidos para validar os correspondentes procedimentos operacionais. Estas bancadas e circuitos experimentais compõem o Laboratório de Termohidráulica Multi-Propósito (LABTERMO).

Os componentes principais do circuito secundário estão também concluídos, incluindo quatro turbo-geradores, dois condensadores principais que compõem uma estrutura única, quatro bombas de extração de condensado e quatro bombas de água de alimentação. Os turbo-geradores estão sendo submetidos a testes de desempenho de acordo com normas militares (MIL-STD) em outro Laboratório de Testes de Equipamentos de Propulsão (LATEP), especialmente construído para este fim.

Um software que simula o comportamento dinâmico da instalação completa, incluindo efeitos da manobra do navio, estará operando até o fim de 2005. Este simulador permitirá verificar as medidas de desempenho integrado da instalação (circuitos primário, secundário e sistemas elétricos) e desenvolver especificações técnicas e procedimentos para uma operação segura.

As obras civis no local de implantação estão paralisadas As fundações do Prédio do Reator e do Prédio das Turbinas (veja imagem acima) estão concluídas. Os contratos para prosseguimento destas obras e para fabricação e edificação da Contenção Nuclear estão prontos para serem firmados, aguardando exclusivamente a disponibilidade de recursos financeiros.

De 1980 até o final de 2004 já foram feitos investimentos no LABGENE em Pesquisa, Desenvolvimento, Engenharia, Aquisições e Construção (P&D e EPC) da ordem de US$ 318 milhões, o que corresponde a cerca de 65% do seu valor total.

Estima-se em cerca de US$ 170 milhões o volume de recursos necessários para a conclusão do LABGENE. Dependendo do cronograma efetivo de alocação de recursos orçamentários nos próximos anos, a primeira criticalidade do reator poderia, tecnicamente, ser alcançada em 2010.


A Conclusão da Fabricação e Montagem dos Internos e do
Vaso de Pressão do Reator do LABGENE


O CTMSP concluiu com sucesso no último dia 27 de julho a montagem final do conjunto Vaso de Pressão e Internos do Reator do LABGENE.



Conjunto Vaso de Pressão e Internos do Reator do LABGENE

A conclusão com sucesso do projeto, fabricação e montagem deste conjunto que, juntamente com os elementos combustíveis e os mecanismos de acionamento de barras de controle, compõem um Reator Nuclear tipo PWR completo, é um acontecimento inédito no Hemisfério Sul e deve ser motivo de grande orgulho para a MARINHA DO BRASIL, bem como para todos os brasileiros que acreditam na competência do País em desenvolver de forma autóctone tecnologias complexas.


O LABGENE é um empreendimento em desenvolvimento sob responsabilidade da Marinha do Brasil e visa a capacitação do Brasil na geração elétrica de origem nuclear que possibilitará o desenvolvimento futuro de pequenas centrais elétricas nucleares e sistemas de propulsão nuclear naval.

A conclusão desta montagem evidencia a capacidade da engenharia do CTMSP e brasileira no que tange o desenvolvimento do projeto e a experiência adquirida na fabricação dos equipamentos gerando um know-how único, pioneiro e de grande valor.

Reator do LABGENE Completo

Daqui para frente os equipamentos ficarão acondicionados nas suas embalagens e serão preservados em atmosfera inerte até o momento da montagem final no Prédio do Reator.

O desenvolvimento da ciência e tecnologia, para o qual a criatividade e a inovação têm que estar necessariamente presentes, suporta-se em três premissas fundamentais: a primeira delas se deve à existência do cérebro humano e ao incentivo à sua potencialidade; a segunda pode ser localizada na mobilização das pessoas e instituições em torno de objetivos, de bandeiras, de metas geradoras de algum benefício estratégico ou social; a terceira refere-se ao esforço nacional, canalizando recursos adequados para a área científica e tecnológica.

Este significativo marco alcançado, fruto da afortunada combinação dessas três premissas, demonstra de forma inequívoca o seu poder. Cumpre persistir na manutenção destas premissas.


Fabricação do Corpo do Vaso de Pressão do Reator


Fabricação do Tampo do Vaso de Pressão do Reator



Montagem do Barril dos Internos do Reator


Região do Núcleo dos Internos do Reator

(*) Leonam dos Santos Guimarães é atualmente assistente do Diretor-Presidente da Eletronuclear e foi Coordenador do Programa de Propulsão Nuclear no CTMSP



Fonte: Site Economia & Energia nº 53 05 Dez / 06 Jan

Comentário. A conclusão do LABGENE é de suma importância para a concretização do submarino nuclear e para o desenvolvimento no Brasil de novas tecnologias nucleares tanto para área militar como para área civil. O presidente Lula colocou esse projeto como prioritário no seu governo e vem disponibilizando a Marinha as verbas para que o mesmo possa ser concluído. Como é um programa ainda de no mínimo 12 anos, teremos de aguardar para ver se será realmente concluído.

Novo Depósito de Lixo Nuclear de Angra 1


Angra Cria Primeiro Grande Depósito de Lixo Nuclear



13/03/2009 - 12h27

JANAINA LAGE
da sucursal da Folha de S.Paulo no Rio


A Eletronuclear substitui amanhã o primeiro grande equipamento da usina nuclear de Angra 1 e o Brasil entra na era da armazenagem do rejeito nuclear de grande porte.

A estatal que administra a usina trocará os geradores de vapor, que serão levados a um depósito inicial com capacidade para armazenar o equipamento por um período de 50 a 100 anos, no terreno da central nuclear.

O primeiro gerador será transferido amanhã e o segundo na próxima semana. O uso do depósito foi autorizado pelo Ibama no dia 3 de fevereiro.



Imagem do Gerador de Vapor na Usina de Angra 1,
Que vai ser Desativado e Substituído por Outra máquina mais Moderna


A operação é complexa e pode ser vista como ensaio daquilo que será necessário fazer ao fim das operações da primeira usina nuclear brasileira.

Em 24 de janeiro, Angra 1 foi desligada do sistema elétrico nacional para efetuar a mudança. O retorno da usina ao sistema está marcado para 6 de junho.

A Eletrobrás gastará R$ 724 milhões na troca de equipamento, para cobrir aquisição, segurança, e outras despesas.

"O gerador substituído é um rejeito de grande porte, mas de baixa a média radioatividade", diz Francisco Rondinelli, diretor da Aben (Associação Brasileira de Energia Nuclear). "O prazo para que ele possa ser descartado no ambiente é de 60 a 100 anos."

Os novos geradores foram fabricados pela Nuclep, no Brasil, com tecnologia da empresa francesa Areva. Isso qualifica a Nuclep a, agora, exportar equipamentos, diz a Eletrobrás.

Angra 1 foi adquirida como um pacote fechado, que não previa transferência de tecnologia pelos fornecedores. O gerador substituído agora foi fabricado pela Westinghouse, com base em um projeto da década de 1970. Angra 1 começou a operar em 1985.

Os geradores são responsáveis pela produção do vapor usado para movimentar as turbinas e o gerador de energia elétrica.

"O equipamento fica dentro da área de contenção. Dentro de seus tubos circula água que tem contato com o reator. Ele gera vapor usando o calor da energia da fissão nuclear", explica Leonam dos Santos Guimarães, assessor da presidência da Eletronuclear.

O modelo de gerador da Westinghouse já apresentou problemas em usinas no mundo todo. Segundo Guimarães, a liga metálica da qual é feito sofre efeito de corrosão quando está sob tensão, o que reduz a vida útil da máquina. No mundo, 89 usinas já realizaram substituições como esta. Até 2011, outras 16 usinas pretendem substituir esses equipamentos.

A tampa do vaso do reator de Angra 1 também terá de ser substituída em alguns anos e seguirá para o mesmo depósito dos geradores. A usina foi licenciada com vida útil até 2025, mas a Eletronuclear prepara estudos para prolongar sua operação até 2045.


Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 13/03/2009

O Brasil e a Fusão Nuclear


Sem Verba, Brasil Vira Sócio de Reator de Fusão Nuclear



16/02/2009 - 10h05

RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo

Os físicos brasileiros que estudam fusão nuclear parecem finalmente ter conseguido fundir seu conhecimento e gerar força para que essa linha de pesquisa tome rumo no Brasil. Após uma longa negociação, um acordo permitirá ao país participar do maior experimento de fusão do mundo, e a partir deste ano brasileiros concentrarão seus esforços num novo laboratório, na cidade de Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba.

Dentro de alguns meses, um acordo formal deve ser assinado para que o país possa enviar pesquisadores ao Iter --protótipo de reator gigante que está sendo construído em Cadarache (França), numa colaboração entre diversos países. O Brasil, porém, não vai injetar verba no projeto diretamente.

"Vamos ser colaboradores não cotistas. Participaremos do projeto, mas não teremos direito a royalties das tecnologias que serão geradas lá", explicou à Folha Odair Gonçalves, presidente da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear). O dinheiro gasto no início da colaboração, diz, será apenas com bolsas de cientistas e cobertura de infra-estrutura para comunicação e viagens.

A fusão nuclear é hoje o Santo Graal da física aplicada. Ao imitar o modo de produção de energia do Sol, ela oferece a possibilidade de gerar força sem emitir gases-estufa e usando combustível barato --hidrogênio, o elemento mais abundante do Universo, que pode ser extraído da água. Se um dia se tornar viável, quase não vai gerar lixo radioativo, diferentemente de sua prima "suja", a fissão, que move as usinas nucleares atuais.

Como o Brasil possui uma matriz energética variada e relativamente limpa, os físicos avaliaram que não vale a pena gastar pesado com pesquisas de fusão, ainda. Cotistas do Iter estão entrando com verbas na escala de centenas de milhares de dólares porque alguns deles, como a China, têm um futuro energético bem mais sombrio.

Se o Brasil tivesse decidido ficar totalmente fora do Iter, porém, poderia vir a se arrepender no futuro, diz Gonçalves. Caso a fusão nuclear se mostre viável tecnologicamente e economicamente --algo ainda incerto--, o Brasil se arriscaria a ter de pegar o bonde andando depois, sem ter experiência acumulada na área. A solução encontrada foi a de fornecer apenas cientistas ao projeto, sem abrir a carteira.

Fusão em Cachoeira

"Apesar de não ter abrigado nenhum grande experimento, o Brasil tem atuado na pesquisa de fusão com bastante reconhecimento internacional", diz Ricardo Galvão, diretor do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), no Rio.

Hoje, o país possui dois tokamaks --protótipos de reatores experimentais de fusão. Um deles fica no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em São José dos Campos, e outro no no Instituto de Física da USP. Galvão vem sempre a São Paulo para participar de trabalhos práticos.

Com o tamanho de um pneu de trator, porém, a câmara do tokamak da USP parece uma maquete comparada à do Iter, que tem as dimensões da cúpula de uma catedral. Mas o pequeno experimento tem seu valor. "Uma publicação feita para reunir as bases físicas necessárias ao projeto do Iter cita um trabalho que foi feito nesta máquina aqui", diz Galvão, abrindo a porta do galpão que abriga o protótipo da USP.

A entrevista que o físico concedeu à Folha sobre a energia que iluminará o futuro ironicamente começou durante um blecaute que havia atingido o campus da USP, na última quinta-feira. Um sistema de segurança havia desconectado o fornecimento de luz do laboratório, e Galvão desceu ao porão para religá-lo manualmente após o fim do apagão.

Os tokamaks do Inpe e da USP possivelmente serão levados ao novo laboratório de Cachoeira Paulista, que pretende concentrar os esforços do país para pesquisa em fusão. O objetivo é que o conhecimento produzido lá seja aplicado no Iter e em futuros reatores.

Aposta no Escuro

Se o fornecimento de luz em São Paulo não é perfeito hoje, também não faltam preocupações para os pesquisadores que veem na fusão o futuro da geração de energia. O próprio Iter, que ainda é um experimento, já enfrenta dificuldades.

"Os materiais dentro do Iter terão de suportar um enorme bombardeamento de nêutrons e também enorme calor", explica Neil Calder, porta-voz do projeto em Cadarache. "A temperatura não será problema. Já para os nêutrons, nós temos materiais que podem resistir a eles, mas a questão é saber por quanto tempo."

Entre as peças do reator que mais preocupam os cientistas estão os ladrilhos especiais que revestem a câmara onde ocorre a fusão e um dispositivo chamado diversor, que coleta a maior parte do calor gerado no reator. "O problema crucial está mesmo nos materiais", pondera Galvão. "Na minha opinião, não se pode afirmar que vamos ter um reator a fusão antes de o teste de materiais no Iter ser satisfatório."

Para o físico do CBPF, se a questão de material for resolvida, "não há duvidas" de que vai ser possível produzir energia por fusão numa usina. "O problema então passa a ser a questão econômica. Não temos como saber ainda quanto vai ser necessário de investimento tecnológico até lá, nem quanto vai custar o quilowatt-hora."

E o Iter, claro, não está imune à crise econômica mundial. A estimativa atual de orçamento do projeto --10 bilhões-- foi feita em 2001, e as inúmeras turbulências financeiras desde então forçaram os cientistas a fazer uma revisão. O novo número será divulgado em junho. Mesmo que tudo dê certo, a fusão ainda vai demorar a entrar na matriz elétrica. "De modo otimista, pode-se ver o início de usinas de fusão comerciais em 2040 ou 2045", diz Calder.


Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 16/02/2009

Comentário: Como foi comentado na matéria a pesquisa de fusão nuclear hoje em dia é Santo Graal da física aplicada e o Brasil não pode ficar a margem do desenvolvimento dessa nova tecnologia. Não só pelos benefícios tecnológicos que esse desenvolvimento trará, mas principalmente por se tratar de uma tecnologia limpa e politicamente correta na questão ambiental.

Reatores de Pesquisas Nucleares no Brasil



REATOR IEA-R1



Histórico

Reator Nome: IEA-R1
Instituição: Instituto de Energia Atômica (IEA) atualmente Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN)
Local : São Paulo
Primeira Criticalidade: 16 de setembro de 1957




Prédio do Reator





Piscina do Reator IEA-R1


O IEA-R1 é um reator de pesquisa do tipo piscina, moderado, e refrigerado a água leve, utilizando grafite como refletor. Foi projetado e construído pela empresa norte-americana Babcock & Wilcox, em 1956.

Sua primeira criticalidade ocorreu em 16 de setembro de 1957 e, após a fase inicial de testes e comissionamento, passou a operar na potência de 2MW, segundo um ciclo de 8 horas por dia, 5 dias por semana. Decorrente do aumento na demanda de radioisótopos para a medicina, indústria e agricultura, bem como para readequação aos novos requisitos de segurança, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), por meio da Diretoria de Reatores, iniciaram, em meados de 1995, o projeto de modernização do reator, incluindo o aumento da sua potência para 5 MW.

Em 16 de setembro de 1997, ocasião em que completou 40 anos, foi alcançada a potência planejada, ampliando-se o ciclo de operação para 64 horas continuas semanais.

A partir de 2001, visando a produção de novos radioisótopos, o ciclo de operação deve ser novamente alterado para 120 horas contínuas semanais.

O prédio do reator possui 4 pavimentos. No subsolo encontra-se a casa de máquinas que acomoda os sistemas de resfriamento, tratamento e re-tratamento de água da piscina.

No primeiro pavimento, encontram-se os "beam holes", ou seja, canais que disponibilizam os feixes de nêutrons para os experimentos de física nuclear, física da matéria condensada e aplicações comerciais (neutrongrafia).

O segundo pavimento acomoda a casa de máquinas do sistema de ventilação e ar condicionado, almoxarifados e sala de apoio da proteção radiológica.

No terceiro pavimento encontram-se a sala de controle, o saguão da piscina e a oficina mecânica. No interior da piscina localiza-se a placa matriz que acomoda os elementos combustíveis, elementos combustíveis de controle, refletores, dispositivos para irradiação de amostras e os canais para medição da potência do reator.

No quarto pavimento localiza-se o sistema de exaustão normal e de emergência do prédio do Reator.




REATOR TRIGA IPR-R1




Histórico

Reator Nome: TRIGA IPR-R1
Instituição: Instituto de Pesquisas Radioativas (IPR) atualmente Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN)
Local : Belo Horizonte-MG
Primeira Criticalidade: 1960

O reator TRIGA IPR- R1 (TRIGA - Training, Research, Isotopes, General Atomics) é um reator TRIGA Mark I, fabricado pela Gulf General Atomic (EUA). É um reator inerentemente seguro, utilizado para treinamento, pesquisa e produção de radioisótopos. Suas principais características são: Potência máxima: 250 kW; Combustível: urânio enriquecido a 20%, 63 elementos combustíveis; Moderador principal: hidreto de zircônio, homogeneamente misturado com o urânio; Refrigeração: água leve desmineralizada; Refletor: grafita; Controle: 3 barras de carboneto de boro; Partida: fonte de actínio-berílio; Dispositivos para irradiação: tubo central, mesa giratória e sistema pneumático; Valor médio do fluxo de nêutrons térmicos na mesa giratória 1,6 . 1012 n.cm-2.s-1.




REATOR ARGONAUTA



Histórico

Reator Nome: Argonauta
Instituição: Instituto de Engenharia Nuclear (IEN)
Local : Rio de Janeiro-RJ
Primeira Criticalidade: 20 de fevereiro de 1965



Reator Argonauta

O ARGONAUTA foi o primeiro reator de pesquisa construído no país por empresa brasileira (CBV Ltda) com projeto do Argone National Laboratory, com potencia máxima de 5kW e uma operação contínua de 500W. Desde 1965 o ARGONAUTA vem sendo utilizado em pesquisas envolvendo nêutrons nas áreas da física de reatores e nuclear. Cerca de 70 alunos de instituições e universidades brasileiras obtiveram seus títulos de mestre ou doutor utilizando este reator no desenvolvimento de suas pesquisas. Atualmente, entre as principais linhas de pesquisas estão ensaios não destrutivos com nêutrons térmicos nas áreas de biologia, indústria, meio ambiente e segurança pública nacional. Também são produzidos radioisótopos ( Mn-56, La-140, Se-75 e Br-82) para serem utilizados como traçadores em pesquisas nas áreas do meio ambiente e industrial. Colaborando com universidades e instituições, disciplinas e aulas diversas são ministradas em suas dependências completando a formação de alunos, da graduação ao doutorado.



REATOR IPEN/MB-01



Histórico

Reator Nome: IPEN/MB-01
Instituição: Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN)
Local : São Paulo-SP
Primeira Criticalidade: 9 de Novembro de 1988




Prédio do Reator


O IPEN/MB-01 é um reator nuclear genuinamente brasileiro, concebido por pesquisadores e Engenheiros do IPEN-CNEN/SP, financiado e construído pela Marinha do Brasil, atingiu sua primeira criticalidade às 15 horas e 35 minutos do dia 9 de Novembro de 1988, sendo oficialmente entregue para operação ao IPENCNEN/SP em 28 de Novembro deste mesmo ano.

O projeto do Reator IPEN/MB-01 foi iniciado em 1983 e suas obras foram concluídas em Julho de 1988. No mesmo mês iniciaram-se os testes dos seus vários sistemas. Cumpridas as exigências legais exigidas para o seu licenciamento, foi concedida em 19 de Outubro de 1988, pelas resoluções CNEN 23 e 25 a autorização para a sua operação inicial.

O Reator IPEN/MB-01 é uma instalação nuclear que permite a simulação de todas as características nucleares de um reator de grande porte em escala reduzida, sem que haja a necessidade de construir-se um complexo sistema de remoção de calor. Esse tipo de reator é conhecido mundialmente como reator de potência zero ou Unidade Crítica, sendo no nosso caso, projetado para operar a uma potência máxima de 100 watts. Esses reatores representam uma ferramenta básica, que permitem aos pesquisadores estudar não apenas por cálculos teóricos, mas também com medidas experimentais, o desempenho e as características do núcleo de um reator de potência ou de propulsão naval, antes da sua efetiva instalação, simulando as condições de projeto na própria instalação.

A filosofia que norteou o projeto do reator IPEN/MB-01, foi no sentido de se projetar e testar um núcleo típico para uso em propulsão naval, ou seja, que o controle de reatividade se desse a partir da inserção ou retirada de barras de controle, contrariando o modelo de muitas unidades críticas em que o controle se dá pelo nível d’água no tanque moderador. Esse controle de reatividade por barras de controle é típico de reatores navais, em que se necessitam de rápidas variações de potência , afim de se empreenderem manobras de fuga ou de perseguição.

O primeiro núcleo do Reator IPEN/MB-01 possui a forma de paralelepípedo com dimensões ativas de 39x42x54,6 cm, sendo constituído de um arranjo de 28x26 varetas combustíveis e 48 tubos guias, destinados a inserção das varetas de controle/segurança, responsáveis pelo controle da reação em cadeia e desligamento do reator. Nesta configuração, dita retangular, temos um total de 680 varetas e um excesso de reatividade de aproximadamente 2415 pcm.

No entanto o núcleo do Reator Nuclear IPEN/MB-01 possibilita a montagem de diferentes arranjos críticos, ou seja configurações de núcleos, uma vez que foi projetado para que apresentasse a versatilidade e a flexibilidade necessárias para tais finalidades. Para tal, a placa matriz que sustenta o núcleo do reator possui 900 furos espaçados entre sí por 15 mm, em um arranjo de 30x30. Nesta placa matriz foram montados os arranjos críticos retangulares, quadrado e cilindrizado.

As varetas combustíveis do reator são constituídas de tubos de aço inox AISI-304, contendo em seu interior um total de 52 pastihas combustíveis de UO2 enriquecidas a 4,3 %. A altura ativa da coluna de pastilhas é de 54,6 cm, sendo que cada pastilha possui uma altura de 1,05 cm e diâmetro de 0,849 cm . As extremidades não ativas das varetas são preenchidas com pastilhas de Al2O3. Os 48 tubos guias para as varetas absorvedoras de nêutrons (Barras de controle e segurança) estão dispostos em 4 grupos, contendo cada um deles 12 varetas absorvedoras, sendo dois grupos de barras de segurança e 2 grupos de controle, dispostos cada um deles em um quadrante do núcleo do reator. Cada conjunto de 12 varetas absorvedoras são unidas através de um corpo central, denominado aranha, o qual é ligado a uma haste de acionamento, que por sua vez é conectada a mecanismos acionados por magnetos energizados.

A reatividade integral de cada barra de controle/segurança é suficiente para desligar o reator, ou seja é de aproximadamente 3200 pcm. As barras de segurança apresentam as mesmas características geométricas das barras de controle, diferenciando das mesmas pelo material absorvedor de nêutrons utilizado, no caso B4C e pelo fato de que durante a operação normal do reator, serem mantidas totalmente retiradas do núcleo ativo do mesmo, com o objetivo de desligá-lo com grande margem de segurança. As barras de controle, são as responsáveis, por manterem constantes a população de nêutrons , quando o mesmo atinge um certo nível fixo de potência.

Quando inseridas no núcleo, as barras de controle, mantém o nível de população neutrônica, através da absorção dos mesmos em seu material estrutural composto de uma liga de Ag-In-Cd, encapsulada num revestimento de aço inox austenítico


Fonte: Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN

Comentário: A construção e operação desses quatro reatores no Brasil foi muito importante (e ainda é) para o estagio de desenvolvimento de tecnologias nucleares atingido pelo Brasil atualmente. Graças ao esforço dos técnicos e cientistas brasileiros, hoje somos exemplo no mundo em varias áreas da tecnologia nuclear.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Projeto para Reator Multipropósito Brasileiro


Projeto


Setor Nuclear Investe em Projeto de Reator de Pesquisas Brasileiro


01 de Setembro de 2008


Com a importância do uso dos radioisótopos nas áreas de saúde, indústria, agricultura, pesquisa, entre outras, os reatores nucleares de pesquisa se tornam essenciais. Com a retomada do programa nuclear, instalações desse tipo dão suporte a diversos desenvolvimentos em física de reatores, materiais, formação de recursos humanos. A CNEN e seus institutos investem no projeto de concepção de um novo reator de pesquisas.


Marcello Vitório/Fullpress


Grupos técnicos foram formados e o projeto foi entregue
ao ministro de C&T Sergio Machado Rezende



O Programa Nuclear Brasileiro traz desafios e oportunidades em áreas estratégicas para o país. Além da geração de energia, muitas outras como saúde, indústria e meio ambiente serão beneficiadas com os avanços no campo das pesquisas nucleares, de acordo com José Augusto Perrotta, diretor de Projetos Especiais do Ipen, em São Paulo. Aproveitando os objetivos estraté-gicos e ações propostas no Plano de Ações de Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI 2007-2010) do Ministério da Ciência e Tecnologia, profissionais do setor se reuniram no Ipen nos meses de setembro e outubro para elaborar o escopo preliminar do projeto do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB).

O objetivo do projeto é conceber, projetar, licenciar e comissionar (ou seja, colocar em funcionamento) um reator nuclear de pesquisas que servirá a múltiplas aplicações. Foram oito grupos técnicos para elaborar o escopo do projeto do reator, voltado à produção de radioisótopos para aplicação na saúde, indústria e meio ambiente, além de testes de irradiação de combustíveis nucleares avançados, irradiação e teste de materiais, realização de pesquisas científicas em física nuclear e aplica-ção técnica de feixes de nêutrons. Várias áreas do conhecimento podem ser desenvolvidas utilizando-se a instalação.

O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) Odair Dias Gonçalves participou da reunião de abertura do projeto, em setembro, junto com o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Comissão, Marcos Nogueira Martins. A coordenação executiva do projeto é do assessor da diretoria da CNEN, Isaac Obadia.

E. R. Paiva

A Reunião de abertura do projeto do RMB ocorreu no mês
de setembro, no IPEN, em São Paulo. Foram formados nove
grupos de trabalho para montar o escopo do projeto, que,
depois de aprovado pelo presidente da CNEN, foi entregue
ao ministro da C&T Sergio Rezende.


Perrotta, coordenador técnico do projeto RMB, explica que a contribuição é decisiva para os objetivos estratégicos do país. O avanço da utilização dos radioisótopos em medicina nuclear é uma das áreas que requer um reator nuclear. Na instalação ocorrem irradiações que geram os radioisótopos, matéria-prima que depois de processada no Centro de Radiofarmácia se transformará nos radiofármacos distribuídos às clínicas e hospitais em todo o país.

A estimativa de custos, baseada em projetos similares no mundo, é da ordem US$400 milhões a US$500 milhões. Por ser um projeto de reator multipropósito e possuir várias instalações associadas, será um reator de referência no país.

O trabalho dos oito grupos rendeu dois volumes, um deles contendo os relatórios, outro as apresentações. Um relatório técnico e um relatório executivo foram entregues ao presidente da CNEN para envio ao Ministro da C&T, que está analisando o documento e, no caso de ser aprovado, deve ser encaminhado ao Comitê Interministerial para o Programa Nuclear Brasileiro.

De acordo com Perrota, a partir da aprovação e liberação de recursos, o tempo para o reator iniciar sua operação é de cinco anos. Segundo ele, os profissionais foram competentes no desenvolvimento do estudo do escopo do projeto, realizado por especialistas dos institutos da CNEN e do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTM-SP) nas áreas de produção de radiofármacos, operação de reatores, aplicações, engenharia de reatores, fabricação de combustíveis, licenciamento, rejeitos e instalações suporte.

Para divulgar o projeto, que tem caráter institucional para a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), o coordenador tem ministrado palestras para diferentes centros de pesquisa no Ipen, nos outros institutos ligados à CNEN e em instituições atuantes em pesquisa na área nuclear. “Queremos disseminar as informações e contar com todas as colaborações e competências possíveis”. A fórmula, explica, foi reunir essas competências e promover um contato estreito entre os diversos grupos da área nuclear. Futuros usuários da instalação - universidades e centros de pesquisa - também foram ouvidos nessa fase preliminar.

O grupo técnico está convencido de que é preciso usar a competência da indústria nacional em tudo o que for possível mas também se deve buscar as competências interna-cionais quando necessário. Um projeto como este é considerado um projeto de arraste da área nuclear. “É uma semente para os próximos anos”.

O superintendente do Ipen, Nilson Dias Vieira, lembra que atualmente o país possui quatro reatores de pesquisa em operação, sendo que apenas o IEA-R1, do instituto, possui capacidade de produção de radioisótopos e irradiação de materiais, embora limitada. A perspectiva de operação do IEA-R1 é de mais dez anos de operação. Em 2008, o reator completou 51 anos de funcionamento. Várias atividades deixarão de existir sem a entrada em operação de um novo reator.

A área de medicina nuclear, que hoje contabiliza três milhões de procedimentos médicos por ano, seria fortemente afetada.

Segundo especialistas, o RMB terá forte impacto na pesquisa, desenvolvimento e formação de recursos humanos no país.

Experiência

Os institutos de pesquisa da CNEN possuem experiência em projeto, construção, montagem, licenciamento, comissionamento e operação de reatores de pesquisa. Há vinte anos, por exemplo, o Ipen opera o reator Ipen/MB-01, projeto inteiramente nacional, conduzido em parceria com a Marinha do Brasil. O aumento da potência de 2 para 5 megawatts do IEA-R1 foi outro projeto desenvolvido no instituto. O Labgene, reator protótipo em terra do submarino nuclear brasileiro, teve seu projeto desenvolvido pela Marinha em cooperação com a CNEN, por meio do Ipen. Outros projetos de reatores de pesquisa foram concebidos no país, embora não tenham sido continuados.

O Brasil detém tecnologia própria de fabricação de elementos combustíveis para reatores de pesquisa. Para o IEA-R1 já foram fabricados mais de setenta combustíveis. A capacidade de formação de recursos humanos na área nuclear no nível de pós-graduação é outra vantagem apontada pelos especialistas.

Entre os radioisótopos propostos para produção no RMB constam alguns destinados à fabricação de radiofármacos injetáveis, outros para braquiterapia (terapia de tumores a curta distância), além daqueles empregados pela indústria e para aplicações ambientais como traçadores. Entre os destinados à utilização na área de saúde, o molibdênio-99 e o iodo-131 seriam prioritários, mas outros nove estão listados no estudo.

Os especialistas estimaram uma potência entre 20 e 50 megawatts para o novo reator. Foram propostas instalações que facilitariam pesquisas utilizando-se aplicações de feixe de nêutrons, que atualmente são pouco praticadas no país, devido ao baixo fluxo de nêutrons dos reatores de pesquisa hoje existentes. Para cada equipamento ou experimento associado foi calculado o custo, com base em instalações hoje existentes.

Serviram como modelo de referência para o estudo os reatores Osíris e Júlio Horowitz, da França, assim como o OPAL, projetado pela Argentina e construído na Austrália. Até mesmo o pessoal técnico necessário à operação do RMB foi estimado. Os requisitos básicos para escolha do local onde será instalado o reator também foram delineados.

Perrotta destaca, com orgulho, que os grupos de trabalho foram constituídos por profissionais de alto nível técnico, muitos deles doutores com mais de vinte anos de experiência na área nuclear, bem como mestres, engenheiros e técnicos que atuaram nos programas e projetos nucleares da CNEN e da Marinha.


Fonte: Jornal Órbita - Ano VIII Número 48 Setembro / Outubro de 2008